As muitas mortes de Andresito

As muitas mortes de Andresito 
Os primeiros cronistas do século XIX já noticiavam a morte de Andresito nas masmorras do Rio de Janeiro. 
A primeira referência conhecida a esse respeito vem da obra Cartas de Sudamérica, publicada pelos irmãos Robertson em 1843, que inclui um texto das irmãs Postlethwaite, que viviam em Corrientes e conheceram pessoalmente Andrés Artigas em 1818; no qual afirmavam: 
“…Andresito e seus índios foram derrotados pelos portugueses. 
Andresito foi feito prisioneiro e levado para o Rio de Janeiro. Não ficaram muito tempo presos, mas Andresito morreu algum tempo depois.”1 
Segundo Jean Martín de Moussy (1857), um dos primeiros e mais conhecidos cronistas a tratar do caudilho guarani:
“Ele foi enviado para Janeiro, onde foi preso. Lá morreu depois de alguns meses, por excesso de bebida, dizem os portugueses, envenenado, dizem os castelhanos, porque temiam sua influência sobre os índios. 
Algo semelhante foi afirmado por Jean Pierre Gay, que resgatou memórias que sobreviveram na memória coletiva dos moradores de San Borja, onde serviu como padre, e com quem Martín de Moussy teve contato, de onde escreveu a parte referente a 
Andresito contida em sua obra. Daí a semelhança na redação de ambas as crônicas. 
Por fim, entre os cronistas do século XIX, cabe citar Fermín Félix Pampín, que, como as irmãs Postlethwaite, conheceu Andresito pessoalmente, embora suas percepções fossem totalmente diferentes, pois ele era uma referência para o
patrício de Corrientes que havia sido profundamente humilhado pela 
incursão Guarani. Sobre a morte do caudilho, Pampon disse: 
"Ele foi surpreendido por um dos portugueses que 
os procurava e levado como criminoso para a vila de São Borja e de lá para o 
Rio de Janeiro e designado com os outros presos para a famosa Ilha das Cobras.”3 
Juntando os diferentes depoimentos citados, obtemos a versão tradicional de que Andresito foi preso no Rio de Janeiro, confinado na Ilha das Cobras e morreu pouco depois por envenenamento ou alcoolismo. Esta 
hipótese foi amplamente difundida e até há poucos anos continuava a constar nos manuais escolares e mesmo em documentos oficiais, apesar de há vários anos
décadas que o trabalho de historiadores argentinos e uruguaios foi trazendo à luz evidências que levaram a reformulá-lo ou pelo menos ampliá-lo. 
A primeira contribuição nesse sentido foi feita em 1936 pelo historiador oriental, que sustentou que no primeiro trimestre de 1821 Andresito foi libertado junto com outros oficiais artiguistas graças aos esforços feitos na corte do Rio de Janeiro por Francisco 
de Borja Magariños e o embaixador da Espanha perante a Corte do Rio de Janeiro, o Conde de Casa Flores. Posteriormente, teria embarcado no brigue inglês "Francis" que partiu 
em 17 de junho e chegou a Montevidéu em 3 de julho de 1821. Segundo Patiño: 
"desde a data de sua chegada, perdeu-se a pegada do líder guarani e
há um denso mistério sobre seu nome e propósito que até agora não foi 
esclarecido ” . Río de Janeiro”, 5 revelou uma série de documentos no Arquivo Histórico de Madrid, entre eles, e o que nos interessa, um bilhete do conde de Casaflores ao ministro da Guerra lusitano, datado de 23 de junho de 1821, solicitando a liberdade do “espanhol Andrés Artigas”, que voltou a estar preso, fruto de “uma pequena briga que teve, há três ou quatro dias”. Apesar de

O ministro português, dois dias depois, no dia 25, atendeu ao pedido do diplomata espanhol, e 
ordenou que Andresito permanecesse preso, enquanto o caso era investigado judicialmente. 
Como vemos pelas datas, ele não pôde embarcar no "Francis", embora tivesse 
comprado as passagens, por isso foi incluído na lista de embarque. Esses avanços de 
García foram divulgados em Misiones através de quatro artigos de Aníbal 
Cambas publicados no jornal El Territorio. Ao que tudo indica, estaríamos de volta 
ao ponto de partida: Andresito teria morrido na Ilha das Cobras, como 
afirmaram Martín de Moussy e Gay. MARTIN DE MOUSSY, Jean Antoine Victor: Memória histórica sobre o declínio e ruína da
Missões jesuíticas no coração de La Plata. 
3 MANTILLA, Diego: “Fermín Félix Pampín- Memórias”. 
4 
PATIÑO, Enrique: Os Tenentes de Artigas. 
5 GARCÍA, Flavio: Prisioneiros artífices no Rio de Janeiro. 
Mas hoje, à luz de novos testemunhos documentais detectados no Rio de 
Janeiro no Arquivo Histórico do Exército e que apresentamos neste relatório, 
essas suposições devem ser atualizadas novamente 
POR Jorge Francisco Machón