Sai Fora Come Doce!

Cresci com o Nego Betão me contando causos das troperiadas, de homens e coisas que construíram minha história e de Santo Antônio das Missões. Um dia Betão me disse, 
_ Chicote Arreador era muito famoso, usado uma barbaridade, mas hoje poucos tauras sabem usar o arreador, mais era costume, era precisão, cada loco tinha o seu, era como chapéu, peão de tropa tinha que ter um, o gado gemia ou se assustava, cada relampasso era um tiro de 22, sabe aqueles toros que tem o diabo por baixo do couro, que atropela bufando todo mundo, aqueles que onde pastam nem o demo passa a pé. Mas com um arreador na mão, um lassasso no lugar certo, no arredor dos quartos estourando na virilha, até um taurino desses se achica, negaceia e berra de dor. Vaca loca se borra nas passadas calando o mugido se mijando toda.
Mas para entregar a tropa, o gado tinha muitas vezes que cruzar por dentro da vila, tinha de ser. A incomodação maior era com o cuscaredo, cada casa tinha o seu e eles viam o gado e se botavam, não adiantava ralha. E os animal ficavam mais perdido  ainda.
Olivério era um peão que manejava um arreador como ninguém e ia à frente da tropa enxotando os cachorros. Mas cada casa tem seu patrão e tu não pode falar mal dos bichos que reparam a casa pros donos como um qualquer. 
Primeiro se ouvia um tiro, dai o grito do Olivério “Sai fora come doce!!!!!!!”, quem estava perto ouvia o gaúcho completa em resmungo baixo “se digo come bosta teu dono me incomoda”. E mais estampidos do chicote.  E o Olivério se arreava a da tiro e era assim naquele tempo em Santo Antônio das Missões. 
Nego Betão e Jorge Guedes 
Walt Disney e o Nego Betão