Estância jesuítica de Yapeyú (séc. XVII-XVIII). Ruínas centenárias em Alegrete (RS)

A Universidade Federal do Pampa em Alegrete/RS, durante o seminário: "A importância das Estâncias e a Formação das Reduções Jesuítico-Guaranis dos 30 Povos”, foi palco do anúncio de uma descoberta arqueológica de grande relevância na região de Alegrete: um antigo Posto da Estância Jesuíta de Yapeyú, fundada em 12 de janeiro de 1657. O achado foi divulgado pelos professores Édison Hüttner [1], coordenador da pesquisa (PUCRS) e Felipe de Assunção Soriano, S.J. [2] (Unisinos), que vêm desenvolvendo pesquisas relacionadas à ocupação territorial e à memória das estâncias missioneiras no sul do Brasil.
Segundo os pesquisadores, esse posto correspondia a uma estrutura de controle e manejo de gado vinculada à vasta estância missioneira da Redução de Nossa Senhora dos Reis Magos de Yapeyú (Rio Uruguai), que integrava a dinâmica econômica, social e administrativa das reduções jesuíticas e suas áreas vizinhas. Trata-se de uma edificação composta por compartimentos de pedra e cercas de contenção que serviam para regular o trânsito de animais, bem como para fiscalizar e registrar a saída de gado destinado ao abastecimento das reduções.
O achado é uma importante descoberta histórica sobre as reduções, pois confirma os mapas do período, as fronteiras da antiga estância de Yapeyú e amplia o raio de atuação de jesuítas e guaranis na região. O conjunto de ruínas surpreende por conservar uma fachada do antigo posto de até 10 metros de altura, currais murados, poços de cacimba, pedreira e uma mangueira para o gado. O achado fortalece a tese de que as estâncias não eram apenas uma unidade pastoril, mas um complexo organizado em diversos pontos estratégicos para o manejo extensivo de gado e sustentação do projeto reducional jesuítico.
Segundo o P. Pedro Ignácio Schmitz, do Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos, as estruturas de pedra e o tipo de envasamento são típicos dos jesuítas. Somam-se a localização descrita nos mapas jesuíticos e os limites entre os Rio Ibirapuitã e o Rio Ibicuí, não há dúvida que as construções dialogam com a documentação jesuítica da Estância de Yapeyú. Suas instalações com posto, curral, cacimba e mangueira também são inovações jesuíticas no período.
Para Hüttner e Soriano, o posto representa uma peça material valiosa da arquitetura missioneira. Essas estruturas, segundo eles, permitiam à estância acompanhar o manejo do gado e colaborar na defesa dos territórios como construções defensáveis das missões. Essa hipótese é comprovada quando identificamos a existências de seteiras no paredão. Uma seteira é uma abertura estreita e comprida feita em muros de pedra para defesa, para o uso de armas de longo alcance como arcos, bestas ou mosquetes. Esse mesmo recurso de defesa das construções existe em outro Posto da Estância de Yapeyú em Libertadora em Uruguaiana/RS.
 

A divulgação desse achado traz importantes implicações para a história local e para os estudos de arqueologia missioneira na região. Permite mapear melhor os caminhos do gado, das trocas e das rotas comunicacionais que ligavam Yapeyú a outras estâncias no Rio Grande do Sul e no Uruguai. Também reabre discussões sobre a extensão dos domínios missioneiros e sobre como o sistema econômico jesuítico foi adaptado às condições geográficas e sociais da fronteira meridional.

Nos próximos meses, os pesquisadores planejam realizar novas investigações e publicar seus resultados. Os resultados alcançados foram obtidos pelo levantamento topográfico e mapeamento com imagens aéreas, além de comparar vestígios materiais e a análise de documentos históricos. Novas indícios de possíveis ruínas jesuíticas em outros municípios estão no cronograma dos pesquisadores e aguardam identificação. A expectativa é que esse achado contribua para uma revisão mais precisa da geografia das estâncias missioneiras e ilumine fragmentos até então pouco conhecidos da presença jesuítica no sul do Brasil.
 

Referências

[1] 2 Prof. Ms. Felipe de Assunção Soriano, S.J. Coordenador e curador do Instituto Anchietano de Pesquisas e do Memorial Jesuíta (Unisinos). Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e membro do Laboratório de Arqueologia da PUCRS.

[2] Prof. Dr. Edison Hüttner. Coordenador do Grupo de Pesquisa de arte Sacra Jesuítico-Guarani e Luso Brasileiro. Coordenador do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas (PUCRS). Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

Fonte: IHU/Unisinos 

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